quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

A Hermione Negra e o Natal

Na última segunda-feira, dia 21 de Dezembro, o mundo parou com a divulgação do elenco do trio de ouro (confira a foto acima) na peça Harry Potter and the Cursed Child. A peça trará uma história sobre Alvo Severo Potter, filho caçula de Harry e portanto, mostrará Harry, Rony e Hermione na fase adulta. O que incomodou muita gente foi o fato de que Hermione será retratada por uma atriz negra no teatro enquanto que, nos filmes, a atriz Emma Watson é branca. Sem falar nas ilustrações de capas e do Pottermore. O que isso tem a ver com o Natal? Muita coisa e é sobre isso que vou escrever falar.

Primeiro, vamos aos fatos. J.K. Rowling, autora da série, nunca disse a etnia da personagem. Nunca falou se ela era branca, amarela, negra, azul, lilás, nem nada. Logo, qualquer interpretação da personagem é válida, desde que ela tenha elementos definidos pela autora, como por exemplo, olhos castanhos, cabelo crespo, inteligência e dentes grandes também (até Cálice de Fogo). Se uma pessoa tem essas características, ela pode ser a Hermione.
O problema todo é que, quando um autor não especifica a etnia do personagem, nós somos levados a imaginá-lo branco. Assim como foram as interpretações de Tiradentes, que vemos como um senhor cabeludo e barbudo (símbolo de poder na época), ou Jesus que é visto como branco, olhos azuis e cabelo grande. Isso, infelizmente, é algo cultural. No mundo da televisão e do cinema, a grande maioria dos personagens são brancos, logo quando não definem a etnia de alguém pensamos que o personagem é branco. É quase uma probabilidade que nossa cabeça faz sem pensar.
Por isso, é muito importante a questão da representatividade nos meios audiovisuais. Não é questão cota ou de pagar de politicamente correto, mas de mostrar que no mundo as pessoas podem ter outra tonalidade de pele. Eu entendo que a Emma Watson tenha marcado demais o papel. Ela sempre será minha eterna Hermione. Porém, não acho errado haver uma releitura da personagem. Até porque, ela não faria a peça e logo seria outra pessoa. Qualquer outra pessoa não é a Emma, por mais parecida que seja. Então, a única diferença é a cor da pele.
A questão toda é que todos acham que a J.K. Rowling resolveu mudar a etnia da personagem para dar uma de politicamente correta e não foi isso que aconteceu. J.K. não mudou nada. Ela não fez um comunicado oficial afirmando que a Hermione é negra. Ela apenas aprovou uma interpretação que o produtor da peça fez. Provavelmente, o produtor achou que a atriz em questão era a melhor indicada para o papel, sem pensar na questão racial. Assim como os produtores da franquia Harry Potter e os ilustradores das capas e do Pottermore, que acharam melhor uma Hermione branca.
Da mesma forma, Jennifer Lawrence foi escolhida para o papel de Katniss, mesmo que a personagem seja descrita como morena. Poderiam ter feito uma maquiagem na atriz, assim como super maquiaram Elizabeth Banks para viver a Effie Trinket, mas não fizeram porque, no fundo, o que deve importar mais é a atuação e a forma em que a adaptação é retratada. A cor da pele, nesses casos, é quase igual a cor do cabelo ou dos olhos da pessoa. Isso porque, cada pessoa ao ler um livro irá imaginar a personagem completamente diferente de todo mundo. Essa é a mágica dos livros: a imaginação cria o “filme adaptado” de cada um. Se um personagem não tem etnia definida, ele pode ter a cor que a pessoa quiser e J.K. Rowling não tem nada a ver com isso.
Agora, você deve estar se perguntando como o Natal está relacionado a isso? Em tudo. Um dos grandes problemas nos dias de hoje é a intolerância das pessoas. Ela pode vir em forma de racismo, homofobia, preconceito econômico, enfim, muitas coisas. E sabe de onde vem isso tudo? Da dificuldade das pessoas lidarem com o diferente. Um grupo de ditos iguais se une para inferiorizar os ditos diferentes e por aí vai. O problema todo é que ninguém é diferente de ninguém. Nós somos feitos das mesmas células. Se você acredita na teoria da evolução, então sabe que todos nós viemos do mesmo conjunto de aminoácidos. Se você acredita na teoria cristã, então sabe que todos nós viemos de Adão e Eva.
Seja ateu ou religioso, acredito que se todos parassem um pouco para pensar, veriam que todos nós somos irmãos ou primos de milhões de graus. Somos todos uma grande família. Não importa se um tem olhos castanhos e o outro azuis, ou um é caucasiano e o outro é negro. Isso é apenas a nossa casca, o nosso embrulho, o superficial. O que importa é o que nós temos lá dentro. Conhece a Angélica que cantava “Vou de táxi, c sabe?”, então, ela que é loira natural (do cabelo ser quase branco), com olhos azuis, tem descendentes croatas, russos e indígenas. Outro exemplo: meu tio é casado e tem quatro filhos. Dois são morenos e dois são brancos. Outro primo é branco, loiro e tem olhos azuis, mas é filho de um homem negro. Cor da pele não diz absolutamente nada sobre ninguém. É apenas algo que a genética determina.
Por isso, nesse Natal e ano novo que vem aí, eu desejo que todos possam parar e refletir que a cor da pele é algo tão insignificante quanto a cor dos olhos. Que todos consigam entender a mensagem clara que J.K. Rowling quis passar na série dela ao não definir a etnia de uma personagem tão importante. Não importa a cor da sua pele, dos seus olhos, do seu cabelo. O que importa são suas ações e o seu “eu”. Durante a série, Hermione sofreu com o preconceito por ser “sangue-ruim” e lutou por causas nobres, como a liberação dos Elfos Domésticos. Que a Hermione Negra possa representar o fim do preconceito entre todos os iguais, ou seja, todos os seres humanos.
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