terça-feira, 10 de maio de 2016

Revenge

Há um ano, ia ao ar o último episódio de Revenge nos EUA. Para quem não sabe, a série teve um papel muito importante na minha vida. Foi a primeira série que eu fiz review semanalmente no Portal Caneca. Foram 45 episódios me dedicando semanalmente à série e mais do que isso, muito carinho e amor recebido através de curtidas, comentários enormes elogiando o meu trabalho e compartilhamentos monstruosos. Acho que foi algo determinante para a minha vida de blogueiro porque pela primeira vez eu fui muito reconhecido pela minha escrita e vi que pessoas curtiam a minha forma de conduzir um texto. Por isso, em homenagem a essa série, que só me trouxe coisas boas e também me introduziu nesse maravilhoso mundo das séries, resolvi escrever esse texto apontando tudo o que gosto nela.
Primeiro de tudo, um pouco de história: nunca fui de acompanhar séries americanas. Eu até via algumas no SBT e na Warner quando tinha o canal e quando eu podia, mas nunca acompanhei de me programar em um horário para ver uma produção do gênero. Porém, sempre fui muito de ver novelas. Desde criança, acompanhei todas as novelas das 21h da Globo e algumas outras. Foi então que descobri Avenida Brasil, a melhor novela dos últimos tempos. Depois que ela acabou, fiquei órfão de uma trama tão boa e acabei ouvindo falar de Revenge porque, como sempre, muita gente comparou as duas tramas. De fato, elas tem muitas similaridades até porque as duas são uma espécie de releitura atual do livro O Conde de Monte Cristo, que ainda não li, mas está na lista. Eu peguei a série para ver e já no Piloto eu me viciei completamente.
O episódio inicial tem um tom muito bom que mistura drama, mistério e um certo ar de espionagem com planos milimetricamente calculados. Ele começa com uma frase do ConfúcioAntes de embarcar em uma vingança, cave duas covas” que eu acho sensacional e depois há um voice off da personagem principal falando sobre vingança. De cara, ela já fala algo que a população brasileira, pelo menos, em sua maioria, não sabe: “Dois erros não fazem um acerto porque dois erros nunca se igualam”. Exemplos práticos da vida real para isso são pena de morte, revogação da lei do desarmamento, diminuição da maioridade penal… mas não entrarei nesse mérito aqui.
O que é importante frisar sobre a série é que ela tem profundidade, quer as pessoas queiram ou não. Durante o tempo em que eu assisti a série, eu vi que ela sempre foi muito julgada por ser “série de mulherzinha” e isso é um absurdo. Primeiro que acho que tal estilo não exista, até porque não são só “mulherzinhas” que gostam de histórias fúteis, que é o que querem indicar quando usam o termo. Só porque a história se passa em um lugar onde há festas luxuosas e as mulheres são praticamente o centro das atenções, também não é motivo para menosprezá-la. Eu até concordo que a trama tem uma vibe de novelão, mas não chega a ser nada mexicano. A própria Sony, que era a distribuidora da série no Brasil, brincou dizendo que Revenge tem história de novela com pegada de série. Tem muitas atualmente que são bem famosas e não tem o mesmo ritmo que a primeira ou a terceira temporada dela. Por trás de festas luxuosas e pessoas poderosas, há uma trama bem humana e dramática que consome os personagens.
Para quem não sabe nada sobre a série ou não se lembra, David Clarke é condenado por um atentado terrorista à um avião, o que acarretou centenas de mortes. Com isso, a filha dele, Amanda Clarke acabou indo pra adoção acreditando que seu pai era um homem mal. Aos 18 anos, ela sai da prisão juvenil e acaba descobrindo duas coisas: o pai dela morreu na prisão seis semanas antes e deixou pra ela 49% de ações de uma empresa super bem sucedida no ramo da tecnologia e uma trilha onde ele explica que foi vítima de uma conspiração da família Grayson, a família mais poderosa dos Hamptons. Com isso, ela treina com um mestre japonês perito em vingança e volta para o antigo lar para acabar com aqueles que destruíram a vida do pai dela.
O que mais me chama atenção nessa série é nas consequências de cada ato da protagonista. A trama começa com “casos da semana” onde Emily Thorne (nome adotado por Amanda Clarke) se vinga de uma pessoa por episódio e risca a cara dela de uma lista que ela tem. É bem bacana essa fase para você criar empatia com a personagem e saber todas as possibilidades e genialidades dela. Emily VanCamp também atua muito bem ao ponto de conciliar entre uma Emily Thorne rica e meiga para a sociedade, uma Emily Thorne badass que luta artes maciais, invade prédios e cria planos perfeitos e uma Amanda Clarke que, por trás disso tudo, é apenas uma garota frágil que teve o pai roubado dela enquanto era pequena e quer que alguém pague por isso.
Dentro de todo esse contexto, entra a “responsabilidade” de uma série com uma temática tão problemática quanto vingança. Ao acompanhar a trama, você cria um laço tão forte com a Emily que você acaba apoiando tudo o que ela faz, por mais maligna que seja. Só que ao mesmo tempo você vê ela se dando muito mal pelas ações dela e vê também pessoas que ela passa a ter um certo carinho na trama, sofrerem por efeito colateral da vingança. A cegueira dela por querer dar o troco em quem a fez sofrer é tamanha que, mesmo com dinheiro o suficiente para sumir do mapa e tentar ser feliz, ela fica presa naquele lugar cheio de gente que ela odeia e tem que ser falsa para conseguir acabar com todos. Quanto mais a história avança, mais ela vai se afundando no próprio ódio e cada vez mais toma atitudes até perversas e isso acaba fazendo os “inimigos” dela terem reações ainda piores. Tudo vira um ciclo onde ela faz um plano de vingança, ele dá certo ou não, mas aquilo acarreta em algo ruim pro lado dela e aí ela decide se vingar por aquilo também.
Por mais que Emily seja uma personagem forte, inteligente, bonita e rica você vê que lá no fundo ela é completamente desregulada, mas mesmo assim tem suas limitações. Por mais que ela ache certo se vingar de uma forma não tão ortodoxa, ela acha errado matar, por exemplo. Isso é algo bastante atual na humanidade, o senso de achar que vale a pena fazer algumas coisas erradas em prol do que acha que é certo, mas que pra tudo há um limite. As vinganças de Emily, na maioria das vezes, foram pautadas em mostrar ao mundo como uma determinada pessoa era de verdade. E tudo isso surge quando a justiça se mostra falha. Não por acaso eu citei o Brasil lá no começo. A nossa sensação de impotência nos levam a pensar em atitudes drásticas para compensar um erro, mas, como a própria série diz, “dois erros nunca farão um acerto porque dois erros nunca podem ser iguais”.
Para compensar essa figura fria e calculista que é a Emily, temos um personagem que deve estar no meu Top 3 personagens preferidos da televisão: Nolan, interpretado brilhantemente por Gabriel Mann. Ele é o dono da empresa de tecnologia, Nolcorp, cujas ações são herdadas por Amanda. Isso porque, lá no passado, David foi a única pessoa a acreditar no Nolan quando ele não era ninguém. Por isso, Nolan tem uma ligação forte com David e quer ajudar Amanda na vingança dela quando ela volta para os Hamptons, onde ele mora também. De início os dois tem uma relação um pouco turbulenta, mas Emily logo reconhece que ele é um aliado poderoso pelo conhecimento dele em computação. Eles se completam porque Nolan é uma pessoa super carente de atenção e amoroso e eles acabam passando de uma relação de ajuda para uma de amizade. A amizade deles é uma das melhores que já foram desenvolvidas na tv e eles formam uma das melhores duplas dinâmicas do entretenimento.
Do outro lado da moeda, temos Madeleine Stowe espetacular na pele de Victoria Pinóquio e Henry Czerny excepcional no papel de Conrad Grayson, o casal mais poderoso dos Hamptons e os responsáveis diretos pela prisão injusta de David Clarke. Enquanto Carminha foi uma vilã que amamos odiar, Victoria foi um tanto quanto diferente. Na série houve espaço para conhecermos o lado dela e de Conrad e por mais que os dois tenham cometido atrocidades, havia um lado não tão ruim assim. Esse é um dos trunfos da série: a mocinha não é tão boa assim e o vilão não é tão mau. Cada um se comporta de uma forma em uma determinada situação e isso nos leva a refletir o que nós faríamos se nós passássemos por aquilo. Tanto que muitos fãs defendiam e torciam por Victoria por enxergar mais o lado dela e julgar a Emily por mais errada. Ao meu ver, quando uma série é capaz de trazer uma situação dessas à tona, ela merece respeito. Revenge está longe do maniqueísmo e da polarização do bem e do mal. Até porque, se Amanda fosse uma mocinha tão boa ela iria se vingar?
Como uma história de vingança é um pouco difícil durar muito, Revenge sofreu por alongar demais a trama. Porém, no geral, as quatro temporadas foram boas. A primeira é ótima, a segunda dá uma deslizada, a terceira recupera o fôlego e tem o melhor arco de um final de temporada da série e a quarta começa bem, cai no meio e melhora no final. Posso dizer com convicção que se pudesse voltar no tempo, faria review da série desde o primeiro episódio, mesmo que eu saiba o quanto me deu trabalho as duas temporadas que eu fiz. Mesmo assim, a série me deu motivos de sobra para continuar acreditando nela até em episódios não tão bons onde eu podia fazer piadas sobre alguns personagens. Além, é claro, de tudo o que aprendi e evoluí escrevendo para o fandom da série e recebendo em troca o carinho e apoio de muita gente. Foi uma experiência memorável e que eu não poderia deixar passar em branco nessa data.
Lembrarei disso tudo por infinito vezes infinito anos.
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