terça-feira, 8 de março de 2016

Sexo Forte da Televisão

Durante muito tempo, na televisão, a mulher seguiu o esteriótipo de sexo frágil. Toda a trama dela estava envolta em um homem, seja um filho, o marido, namorado, etc. A maior ação que ela tinha, talvez, era dar golpes para se dar bem às custas dos homens. Felizmente, cada vez mais, esse estigma está caindo por terra e as mulheres tem conseguido ganhar papéis de protagonismo, que representam muitas delas. É até notável que quando temos protagonistas mulheres a trama ganha um novo clima. Afinal, o sexo feminino, quando livre, consegue ser o que quiser e se mostra muito mais complexo que o sexo oposto. Nós, homens, somos muito mais engessados e previsíveis. Elas, contém o elemento surpresa. A inversão de papéis no protagonismo do entretenimento, pouco a pouco, vai transformando o nosso modo de pensar, até que um dia ele não será mais necessário para todos reconhecerem que não existe sexo fraco ou forte, apenas seres humanos cuja capacidade é do tamanho da própria determinação.
Para falar com mais propriedade sobre as mulheres, Aline Machado, super seriadora e colunista do Portal Caneca, aceitou escrever em parceria comigo a lista a seguir.
PS: Essa lista não está em ordem. Não há como julgá-las melhores que as outras por serem personagens diferentes, em contextos diferentes.


Annalise Keating
Para começar bem, nada melhor do que falar da atração principal de How to get Away With Murder. Viola Davis dá a vida a uma advogada e professora negra super bem sucedida dos EUA (um dos países mais racistas do mundo). Além de ser implacável em todas as audiências que participa e em todas as aulas que leciona, ela emana poder também como mulher. Apesar de não ser tão nova e nem atender ao padrão de beleza da nossa sociedade, Annalise é uma mulher com grande confiança e que consegue o que quer, dentro e fora dos tribunais. A atuação excepcional de Viola Davis só acrescenta mais força nessa personagem.
Clarke, Lexa, Octavia e Raven
Para quem não sabe, o que essas quatro tem em comum é o fato de que estão na mesma série: The 100. E não por coincidência, a série retrata mulheres fortes e inteligentes, capazes de tudo para sobreviverem e ajudarem a todos. Talvez o maior exemplo disso seja a Clarke. Uma garota guerreira que aprendeu alguns paranauês de medicina com a mãe e tem uma veia política nata. Ela é praticamente a relações públicas, internacionais e políticas da Arca. Com astúcia e determinação, consegue sempre achar uma saída menos danosa para o povo dela e para os demais, evitando assim, conflitos desnecessários.
Entre todas as excelências de The 100, o desenvolvimentos das personagens pode ser uma das mais marcantes. Octavia que veio de uma infância árdua, ao chegar na Terra precisou se reerguer pelos próprios pés para agarrar essa segunda chance dada. Ela foi de uma garota "bobinha" que sonhava com seu cavaleiro de armadura, à uma verdadeira guerreira, e esse crescimento em nenhum momento foi dado à terceiros. A infância oprimida de Octavia é o que despertou seu lado batalhador, provando a si mesma que não necessita de ninguém para protegê-la, nem de seu irmão, e muito menos de seu par romântico.
Raven não só é a maior e melhor mecânica da Arca, mas superou com maestria todas as adversidades criada pela vida. Desde a uma doença cardíaca, a quase perda dos movimentos, ela vem como uma locomotiva atropelando cada obstáculo colocado em seu caminho. Coloca sempre o trabalho acima de suas necessidades e limitações pessoais, destruindo barreiras que, para muitos, parecem impossíveis.
The 100 é o seio da liderança feminina. A série possui diversas mulheres em posição de poder, e entre elas, temos Lexa. A comandante dos 12 clãs é respeitada por toda uma nação, e o fato de ser mulher, ou apenas uma garota de 20 anos, nunca foi trazido à tona em forma de desrespeito. Não que a série tenha forçado a barra, mas sim porque Lexa provou diversas vezes ser digna de sua posição. Seja defendendo seu povo a todo custo, seja lutando com as próprios mãos pelo direito de governar os clãs, a Heda exala poder e força.
Jessica Jones
Jessica Jones foi uma das séries mais ovacionadas de 2015, talvez até mais que o companheiro de Marvel, Demolidor. Enquanto que a série dele foi focada mais na ação e na luta, a dela, que é mais forte que Matt, foi centrada em um thriller psicológico insano. Isso tudo porque se a série focasse na parte física de Jessica, tudo iria acabar muito rápido (com perdão do trocadilho). Ela é uma super anti-heroína que, na primeira temporada, tem que combater alguém cujo poder de influência é enorme. É quase como se Jessica representasse todas as mulheres que já passaram por um relacionamento abusivo, só que a um nível maior.
Nomi e Sun
Ainda da Netflix, temos Sense8 com toda sua representatividade, que não deixaria de fora mulheres fortes e determinadas. Nomi, é uma das principais. Ela, por acaso do destino, nasceu na forma de Michael, mas isso não a impediu de se transformar na mulher que ela é: decidida, guerreira e uma hacker badass. Por ter nascido em berço de ouro, teve que enfrentar muito preconceito por parte da família que não a compreendia, mas nunca deixou que o dinheiro a fizesse desistir de ser quem ela é.
Outra personagem que não se pode deixar falar é Sun. Uma coreana que segue a risca os princípios éticos e morais da cultura dela. Além de claro, estar ligada às artes maciais. Em cada momento de tensão em Sense8, ficava fácil escolher uma personagem para lidar com a situação. Com força e coragem, ela não tem medo nem de ir para a cadeia para defender seus princípios.
Kara
Quando saiu de Krypton, a obrigação de Kara era proteger o primo, Kal a.k.a. Clark Kent a.k.a. Superman, mas devido a um desvio de rota, ela acabou chegando na Terra bem depois que o primo, que na época já tinha virado o Superman. Logo, não precisava mais de proteção. No entanto, ela sentiu a necessidade de ajudar National City, cidade onde mora, e fazer uma jornada dupla de heroína e secretária. Ela pode ter os mesmos poderes que o primo, mas o que a torna uma super heroína é um coração bom e um senso de justiça inabalável.
Emily Thorne
Revenge já acabou faz quase um ano, mas o legado de Emily Thorne ainda está na cabeça dos fãs. Após ser separada do pai quando criança, ela morou em um orfanato, acabou na prisão juvenil e ao sair e ganhar uma grande herança do pai, decide vingá-lo. Ela poderia pegar todo o dinheiro e sumir pelo mundo, mas decidiu se infiltrar na família mais influente dos Hamptons para conseguir justiça para o pai morto. Para isso, ela não só contou com toda sua classe, astúcia e beleza, mas também com um treinamento no Japão.
Nina
Ainda falando de vingança, Nina movimentou a novela Avenida Brasil ao tentar se vingar pelo pai, que foi morto depois de um golpe, e por ter sido deixada em um lixão pela madrasta dela. Ela acabou sendo adotada por um casal argentino, mas resolveu voltar para o Brasil e se vingar. Se infiltrou na casa da madrasta como chef de cozinha e pouco a pouco, conseguiu cumprir o objetivo dela.
Isabel e Laura
Isabel nasceu em um Rio de Janeiro pós abolição da escravidão, sendo filha de ex-escravos e lidando sempre com o preconceito que permanece até hoje no país. Após ser deixada no altar pelo noivo que estava tentando salvar o cortiço onde moravam, ela acaba sendo seduzida pelo filho de uma ex-baronesa chamada Constância. Ela engravida e tem o filho, mas Constância dá a criança e diz que ela nasceu morta, por não querer um neto bastardo, filho de uma mulher negra. Após isso, ela paga para Isabel ir para Paris. Anos depois, Isabel volta super bem sucedida após se apresentar na capital francesa levando o samba do Brasil. Ela descobre todo o plano de Constância e consegue encontrar o filho perdido.
Laura, no entanto, é filha de Constância e se vê obrigada ao casamento com Edgar para tentar livrar a família da miséria eminente após a proclamação da República. Ela sempre quis trabalhar, estudar e ser independente e viu no casamento uma prisão. Porém, não se abalou com isso e, através de um pseudônimo, começou a escrever em um jornal da cidade e ser professora. Sua determinação em ensinar e ter voz na sociedade a fizeram quebrar os padrões da sociedade na época.
Rachel, Monica e Phoebe
Rachel chegou em Friends como uma mulher patricinha e mimada e talvez, através das temporadas, ela não tenha mudado muito. Porém, o fato de romper um casamento de interesse para buscar a própria felicidade, foi uma atitude corajosa para ela. Ainda mais que ela nunca tinha trabalhado e ao tomar tal posição, teve que se virar para sobreviver sem os mimos do pai. Ao longo do tempo, trabalhou no Central Perk e depois conseguiu trabalhar para Ralph Lauren, conseguindo achar um trabalho que gostava de fazer e se destacar na área ao ponto de ser disputada por duas empresas grandes.
Monica, pelo contrário, sempre foi mais independente. Por causa de sua personalidade praticamente hiperativa, sempre gostou bastante de trabalhar, fato que manteve a casa dela sempre impecavelmente limpa, mesmo trabalhando como chef de cozinha. Além disso, quando o marido foi transferido para outra cidade no emprego, não desistiu dos próprios sonhos e continuou morando no mesmo lugar para trabalhar onde queria.
Phoebe é um caso totalmente a parte. Mesmo tendo uma situação difícil quando criança, onde morou na rua e acabou assaltando pessoas, ela deu a volta por cima e se tornou uma mulher de princípios. Tudo bem que nem todos os princípios dela são os melhores, rs, mas acho que o mais importante nela é não ligar para o que os outros pensam. Mesmo estando vestida de um jeito que a sociedade toda reprove, ela se sente bem porque ela verdadeiramente gosta de se vestir e agir do jeito que age, sem se importar com a opinião alheia. A confiança dela é algo inspirador não só para as mulheres, mas para a sociedade em geral quebrar certas regras sociais.
Amberle e Eretria
The Shannara Chronicles encerrou a primeira temporada na semana passada com um mundo ao mesmo tempo distópico e fantasioso. Apesar da série possuir um personagem masculino como protagonista, são as garotas que roubam a cena. Will não sabe nada sobre a vida, e é então que Amberle e Eretria se destacam.
Amberle pode ser uma princesa, mas como a maioria das personagens na mesma posição, a todo momento, precisa provar que está muito além disso, e ela consegue com maestria. A princesa dos Elfos é uma guerreira congênita, íntegra, e inteligente o bastante para colocar a cabeça antes do coração em suas batalhas. Já Eretria pode até não ser a rainha da estratégia, mas sabe sobreviver como ninguém. Dando o balanço que faltava para o trio, é a única lutadora com experiência. Se Amberle é o cérebro, Eretria é o músculo; forte e independente o bastante para enfrentar um exército de trolls sozinha.
Felicity, Laurel e Thea
Felicity era para ser uma personagem figurante em Arrow, mas após o desempenho impressionante de Emily Bett Rickards, a personagem ganhou mais espaço, formando um trio com Oliver e Diggle. A personagem foi muito bem concebida porque quebra com vários esteriótipos de uma só vez. As mulheres ainda são uma minoria esmagadora em cursos de computação e quando pensam em alguém da área, em geral, pensam em pessoas feias, esquisitas e mal arrumadas. Felicity não obedece a nenhum desses casos porque ela mostra que pode ser uma hacker excepcional formada pelo MIT e ainda ser vaidosa. Além disso, ela nunca deixou ser calada por Oliver ou Diggle e sempre se portou como a mais racional e centrada do trio.
Laurel pode ser uma personagem simples, mas apesar do roteiro não valorizá-la como merecia, ainda sim teve destaque. Ela agiu como promotora, onde sua maior preocupação era com a população mais carente e sem recursos. Ao longo do tempo, acabou tendo problemas com alcoolismo, mas conseguiu dar a volta por cima e se reerguer. Com seu senso de justiça sempre afiado e após a morte da irmã mais nova, ela assumiu o manto de Canário Negro e começou a defender a cidade onde mora, principalmente mulheres que estavam em perigo iminente de abuso.
Thea, irmã de Oliver, nasceu rica e como o irmão, mimada. Porém, com o tempo, conseguiu amadurecer, trabalhar e pelas eventualidades da vida, acabou sendo treinada por um integrante da Liga dos Assassinos. Junto de Oliver, ela veste um capuz vermelho e sai pelas ruas para proteger a cidade aliando a técnica de luta com tiros certeiros de arco e flecha. Por diversas vezes discutiu com o irmão por motivos de não querer proteção e não ser frágil.
Menção Honrosa: Tatiana Maslany
OK, demos uma roubada nessa aqui. Tatiana Maslany não é uma personagem da televisão, mas ela é tão empenhada no trabalho dela que fica difícil separá-la das personagens. Em Orphan Black, o que mais se destaca além da direção, roteiro e produção impecável é a atuação dessa atriz super competente que encarna diversos personagens completamente diferentes, desde a forma de pensar até a forma de andar. Há certos momentos em que ela atua uma personagem interpretando ser outra personagem e você consegue enxergar isso tudo. Ela verdadeiramente poderia ser indicada ao prêmio de melhor atriz e melhor atriz coadjuvante pela mesma série em todas as premiações possíveis, mas ao invés disso, nem indicada é.
Imagina gravar a mesma cena pelo menos quatro vezes, em que cada tomada ela teria que representar alguém diferente de forma magistral? É muito trabalho para pouco reconhecimento. Isso, talvez, venha do fato dela ser mulher ou canadense, ou as duas coisas misturadas. Porém, é mais do que certo que ela encanta a todos que assistem a arte e o empenho profissional que ela distribui, sem reconhecimento, na televisão.
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