sábado, 12 de setembro de 2015

A Bienal do Livro e o Fanatismo

Há dois anos, eu escrevi uma coluna sobre o que eu percebi da Bienal do Livro daquele ano. Resumindo, eu falei sobre os preços abusivos da feira e de como os consumidores entraram na moda dos livros sem questionar preço ou qualidade. Filas e filas se formavam em torno de estandes que cobravam mais que o dobro do preço praticado por lojas online. Para ler a coluna sobre a Bienal do Livro de 2013 na íntegra, clique aqui.

Dois anos se passaram e muitas coisas mudaram. O preço dos livros, em geral, caiu no evento. As filas nos estandes, surpreendentemente, também. Não sei se foi a crise ou o público em geral que mudou, mas foi interessante ver que, apesar de o local estar bem cheio, a grande maioria não estava comprando. Para situar você, caro leitor, eu fui no feriado de 7 de Setembro e fiquei das 15h até às 20h. O máximo de fila que peguei foi dez minutos. No final do dia, estava bem feliz. Tinha conseguido comprar vários livros e passei um dia divertido com os amigos, minha mãe e meu primo de dez anos, que foi apresentado à Bienal neste ano. Tudo estava maravilhoso até o dia seguinte.
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Para ler a matéria completa, clique aqui.
Antes que alguém queira me matar só por esta foto aí de cima, quero que se atente para a seguinte mensagem: EU, BRENNO, NÃO TENHO NADA CONTRA A KÉFERA!!! Pronto, agora dá para continuar. Estou colocando esta manchete e vou citar a Kéfera porque ela foi o que mais me chamou atenção e me levou a fazer a coluna. Como ela, existem outras várias pessoas famosas que se enquadram na mesma coisa que eu vou escrever.
A minha crítica aqui não é sobre o fato da Kéfera, ou quem quer que seja, escrever um livro. Acho que qualquer pessoa é capaz de escrever um e sinceramente não me importo com isso. O meu problema é com a forma que o público, especialmente o fandom, reage a isso. Com todo esse boom das redes sociais, hoje em dia qualquer pessoa pode ser famosa sem aparecer na grande mídia. Isso também é outra coisa que não tenho nada contra, aliás, pelo contrário, acho super legal. O que estraga são os seguidores.
As pessoas estão MUITO obcecadas pelos famosos e eu acho que isso não é algo saudável. Nada em exagero é saudável, mas essa compulsão por gente famosa beira a loucura. Você pode ser fã de alguém, mas tudo tem um limite menos a zoeira. Na matéria que postei aí em cima, tem relatos de pessoas que estavam na fila para pegar a senha para o autógrafo da Kéfera às QUATRO HORAS DA MANHÃ de um dia NORMAL DE SEMANA, sendo que as senhas só seriam distribuídas às 10h30m e a Kéfera só chegaria às 16h. Não muito tempo atrás, minha amiga me disse que fãs de outra youtuber famosa pagaram CINQUENTA REAIS para furar a fila de uma festa de comemoração de um milhão de inscritos no canal da youtuber KD A CRISE?. Por esses dias, também, li que faltam QUATRO SEMANAS pro show da Katy Perry em Curitiba e já tem fãs acampados na porta.
A primeira pergunta que eu quero fazer é: isso é NORMAL? Para mim, não é, mas esses relatos estão cada vez mais comuns. Pessoas passam mal por estarem espremidas contra a grade que as separa de seu ídolo. Eu já fico completamente irritado quando pego um ônibus em pé e um pouco cheio. Não consigo me imaginar em uma situação dessas. Agora, o que me levou a escrever essa coluna foi algo ainda mais grave do que o fanatismo das pessoas: a capitalização em cima do fanatismo das pessoas.
No meu dia de Bienal, eu estava no estande da Submarino quando me dei conta que tinha uma pessoa conversando com alguns jovens. Essa pessoa era o autor Raphael Draccon que tem uma trilogia inteiramente publicada e está lançando o segundo livro de sua segunda trilogia. Ele estava no estande da Submarino falando para meia dúzia de pessoas. Mais tarde, o vi andando tranquilamente pela Bienal com a, também autora, Carolina Munhóz. Não vi ninguém avançando em cima deles para tirar selfies ou pedindo autógrafos.
Esse é o motivo de falar da Kéfera. Enquanto Raphael Draccon e Carolina Munhóz são conhecidos por sua escrita, Kéfera é conhecida por ser youtuber. A diferença é que Kéfera foi o maior best-seller da Bienal do Livro, mesmo que o livro dela tenha sido lançado na Bienal e ela não tenha publicado nenhum outro livro antes. Os outros autores já são conhecidos no Brasil por sua escrita e mesmo assim, em uma feira de livros, não chamaram tanta atenção quanto uma youtuber. A mesma coisa podemos dizer sobre Maurício de Souza que, mesmo sendo o homenageado da Bienal do Livro deste ano, não chegou a ter tanta repercussão quanto a criadora do canal 5 minutos.
Isso me frustra muito porque mostra que livros estão sendo consumidos por causa dos autores e não pelas mensagens que podem passar. Não estou dizendo que o livro da Kéfera é melhor ou pior que o livro do Raphael Draccon. Não poderia julgá-los sem antes ter lido os dois. Estou querendo dizer que o fato do Raphael Draccon ser um escritor conhecido no Brasil deveria concedê-lo certa credibilidade na Bienal do LIVRO. A Kéfera é uma ótima comunicadora, afinal, ter mais de cinco milhões de inscritos no YouTube não é para qualquer um, mas será que ela é tão boa escrevendo quanto é fazendo vídeos? Era esse tipo de pensamento que eu esperava das pessoas.
Raphael Draccon era uma pessoa desconhecida quando publicou seu primeiro livro pela Rocco, uma das maiores editoras do Brasil. Só por aí, mesmo não lendo nada que ele escreveu, podemos dizer que ele deve ter talento na escrita. A mesma coisa não podemos afirmar tão cegamente de Kéfera. Será que se o canal dela tivesse só mil inscritos ela conseguiria publicar um livro sobre isso? Será que a Andressa Urach teria uma biografia se ela não estivesse na mídia por algum motivo que eu não sei bem qual é? Será que a Kim Kardashian venderia um livro só com SELFIES sim, isso existe se não fosse uma celebridade? Será que o Thammy Gretchen conseguiria publicar um livro se fosse um transexual que não está na mídia? Enfim, perguntas para as quais nunca teremos respostas, mas que tem uma coisa em comum: muito dinheiro.
Infelizmente, até em um lugar tão lúcido como o mundo dos livros, podemos observar que o dinheiro, a fama e o poder também mandam. Todos esses exemplos que dei aí em cima me fizeram lembrar de uma mulher pobre cuja história foi recusada por DOZE EDITORAS. Essa mulher é nada mais, nada menos, que J.K. Rowling, autora da saga Harry Potter e a primeira pessoa a ficar bilionária escrevendo livros. É triste pensar que se ela tivesse milhões de seguidores no Twitter antes de publicar Harry Potter, editoras entrariam em uma guerra para disputar o livro dela. Foi mais ou menos o que aconteceu quando ela lançou Morte Súbita, seu primeiro livro pós-HP. Isso pode tê-la influenciado a lançar sua nova série, Cormoran Strike, através de um pseudônimo, ou seja, uma identidade falsa. Pelo o que eu me lembre, ela quis lançar o livro através de outro nome para não ter tanta pressão em cima dela e para ela ter certeza de que poderia lançar um livro sem precisar que seu nome a precedesse. 
É necessário que se tenha discernimento para separar o autor de sua obra. Mesmo sendo um grande fã da escrita de J.K. Rowling por causa de Harry Potter, li Morte Súbita com baixa expectativa por saber que se tratava de algo totalmente diferente dos primeiros livros dela. Além disso, é preciso ter consciência para entender que o seu ídolo é uma pessoa normal como você. Ele é capaz de fazer coisas ótimas que te levam a querer segui-lo em todos os lugares, mas não está imune a erros e fracassos. Dentro de todo mundo, há o potencial de ser famoso por alguma coisa e isso não quer dizer que todo mundo seja perfeito em tudo. Por isso, temos que tomar cuidado com o que consumimos cegamente. Afinal, cento e trinta e seis páginas podem valer muito menos que 5 minutos.
OBS: Se você chegou no blog através dessa coluna e quer saber mais sobre esse espaço, leia a minha primeira coluna explicando o blog clicando aqui. Não deixe, também, de curtir minha página no Facebook clicando aqui.
E você, o que achou da Bienal do Livro? E da coluna?
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