quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Harry Potter and The Cursed Child - Crítica Dupla

O dia chegou. Desde 2007, os Potterheads sonham com apenas uma coisa: um novo livro de Harry Potter. Depois de muita negação de J.K. Rowling, o mundo está na presença da oitava história do bruxinho do barulho bruxo mais famoso de todos os tempos. Só que, bem, nem tudo são flores, e o que era para ser um livro em formato de romance é na realidade o roteiro de uma peça que está sendo exibida em Londres e que apresenta uma história dezenove anos depois do final do sétimo livro (antes do epílogo). Como sou muito fã de Harry Potter, não pude deixar de ler a história e aqui resolvi deixar minhas impressões nessa crítica dupla. Na primeira parte, farei uma crítica sem spoiler e na segunda, me aprofundarei no roteiro com bastante spoiler para comentar sobre a tão aguardada nova história.
Um Livro Diferente - Crítica Sem Spoiler
O primeiro ponto desse livro que deve ser abordado antes de comprá-lo é que ele é totalmente diferente do que estamos acostumados com os livros da série. Para você ter uma ideia, não há quase descrição nenhuma do ambiente em que os personagens se encontram, das características físicas de cada um, das roupas ou objetos cênicos. O livro é praticamente todo só de falas, com descrições rasas sobre o que cada personagem sente em cada momento ou a forma dele se portar. Isso deve ter ficado mais para o próprio ator e a direção trabalharem juntos. Portanto, esse é um ponto crítico que as pessoas devem levar em consideração antes de pegar o livro para ler.
O meu maior problema com esse livro é a história, que não poderei falar muito aqui para não dar spoiler. O que eu posso dizer é que eu esperava algo novo, incrível, de tirar o fôlego e uma ótima forma de relembrar personagens que eu amo e que já li várias vezes. Porém, ao invés disso, recebi uma trama clichê, que, para ser considerada fanfic, deveria melhorar muito. Muitos personagens foram desconstruídos e perderam a personalidade marcante. Vários tomaram atitudes super questionáveis e improváveis diante de tudo o que sabemos nos sete livros da saga.
Além disso, até os personagens novos, que não conhecemos e que tinham total liberdade para serem desenvolvidos, tiveram uma construção preguiçosa. Muitas motivações foram rasas para acontecimentos tão grandiosos. Quiseram fazer tanta reviravolta e plot twist nesse roteiro, que esqueceram do básico: dar base para conhecermos a essência de cada um e poder entender o papel que eles desempenham. Isso me desconectou da história e me fez questionar várias ações que foram tomadas sem preparação. Achei um texto muito fraco para sustentar o peso de uma saga tão grandiosa.
Outro fato também me incomodou bastante em relação a esse livro e junto com o enredo me fizeram realmente odiar esse roteiro. J.K. Rowling sempre disse que precisaria de algo muito bom e muito forte para fazê-la escrever outra história. Quando ela resolve, enfim, continuar, ela delimita essa história em uma peça. Eu já escrevi sobre isso na coluna sobre Erros do mundo Potterhead (clique aqui para ler), mas preciso concluir meu pensamento aqui nessa crítica. Essa história passa muito longe do nível de complexidade de toda a saga Harry Potter. Quando eu digo muito, é muito mesmo.
Tudo isso me faz pensar que ela só fez essa peça pelo dinheiro, porque sinceramente não vejo explicação cabível para ela ter aceitado um enredo desses. Não posso admitir que uma mulher que criou um mundo fantástico e uma história de sete livros completamente redonda e bem amarrada, possa ter aceitado que fizessem isso com a obra dela. Para piorar, ela não lançou esse livro para os fãs que não poderiam ver a peça. Provavelmente, foi a editora que deu a ideia de pegar um roteiro que já estava pronto e lançar em livro para arrancar mais dinheiro de nós, fãs, que estávamos ansiando tanto por isso. Só para níveis de comparação, o livro na Amazon americana está $17,99, enquanto que a edição ilustrada de Câmara Secreta que ainda nem lançou e está em pré-venda está $23,99. Nem preciso dizer que, diferente de algo que foi escrito só com falas, a versão ilustrada do segundo livro tem a história e ilustrações belíssimas em uma edição super luxuosa.
Não tenho problema em querer lucrar, não, gente. Não me levem a mal. Só que eu quero ser respeitado como fã, algo que muita gente nem pensa que possa existir. J.K. Rowling decidiu fazer um evento grandioso para o fandom, que é a oitava história, em Londres, super caro, e que mesmo que todos os fãs tivessem dinheiro para ir, seria fisicamente impossível que todos vissem. “Ah, mas podem lançar em DVD”. Da mesma forma, terão fãs que poderão sentir a magia do teatro e outros, não. Não é justo prender algo tão grande em um lugar pequeno para a dimensão que é. Aí, para dar um cala-boca, é lançado o roteiro à preço de ouro para os fãs, que estão sedentos por alguma coisa da série, comprarem sem nem pensar duas vezes. Eu acho isso muito feio e baixo para uma saga com valores tão bonitos.
Na minha opinião: não vale a pena gastar nem um centavo nesse livro, mas eu sei que a tentação é grande e que se você for fã, vai querer comprar a obra para ler. Se você já leu o livro ou quer saber o que acontece no roteiro que me fez odiar essa história, leia a próxima parte para saber o que achei do enredo, agora com spoiler.
Isso é Real? - Crítica Com Spoiler
Comecei com esse subtítulo porque é a pergunta que mais me vem à cabeça após ler esse roteiro. Não é possível que isso seja real. Não é possível que, em uma só ocasião, J.K. Rowling tenha desfeito a mágica da saga toda em uma história clichê e que precisa melhorar muito para ser considerada fanfic. Nessa parte, vou analisar a trama profundamente, pegando trechos que acho relevantes e explicando porque eu acho que eles vão contra várias premissas da série. Sim, essa crítica será majoritariamente negativa, já que nem sei se achei algum ponto positivo nessa história diante de tantos absurdos que li.
- União entre Alvo e Scorpio e Separação entre Alvo e Rose
Essa parte é logo no começo e já inicia a trama bem mal. Alvo e Rose estão procurando um compartimento do trem para sentar e querendo fazer logo amizade. Alvo entra no compartimento de Scorpio e, mesmo depois de descobrir que o garoto é filho do inimigo de infância do pai, que foi um Comensal da Morte e filho de um outro Comensal da Morte que tentou matar Harry, Alvo decide ser amigo dele. Alvo decide abandonar Rose, a prima dele, com quem ele conviveu a vida toda e que deve ter brincado muito (imagino até eles em natais e aniversários de família juntos e tal), para ficar com alguém que a família com certeza iria desaprovar, por puro capricho. Não houve um laço forte que o ligasse ao Scorpio de uma forma que justificasse tal união repentina. Foram muito preguiçosos ao criar essa parte, que vem a ser a base da história toda.
Para completar, Alvo vai parar na Sonserina junto com Scorpio, enquanto a Rose vai para Grifinória. Meses atrás, meus amigos estão de prova, eu visualizei Alvo indo pra Sonserina, porque seria uma reviravolta grandiosa. Por mais que fosse bem improvável, já que ele é metade Weasley, metade Potter, Sirius veio de uma linhagem inteira de Sonserinos e caiu na Grifinória. Até aí tudo bem. Porém, achei que o propósito do Alvo ser da Sonserina seria quebrar com essa quase regra que parece haver de “só pode ser amigo de quem é da sua casa”. Aí ele, Scorpio e Rose formariam um novo trio, sem precisar que os três fossem da mesma casa.
Só que, aconteceu o contrário. Como ele não estava na casa da prima, eles simplesmente se afastaram, como se nada tivesse acontecido. Além disso, durante a leitura não consegui extrair nada que justificasse Scorpio e Alvo serem Sonserinos. Até porque toda a motivação do Alvo na história foi por birra do pai e o Scorpio não se parece nada com o Draco, que seria o maior exemplo de Sonserino que a gente tem. Ficou meio vago eles caírem na casa. Além disso, há todo aquela conversa no epílogo, e aqui no roteiro também, sobre Alvo poder escolher a casa de Hogwarts. Por que ele não escolheu? Por que não pediu como o pai e disse “Sonserina não”?
- Vira-tempo
Todo o conceito desse vira-tempo foi a pior invenção que poderiam ter. J.K. Rowling deu uma entrevista, algum tempo atrás, onde ela disse que gostou muito de escrever sobre viagem no tempo no terceiro livro, mas que, com isso, ela acabou criando um problema para ela própria. Daquele momento em diante, os personagens sempre poderiam voltar no tempo e salvar alguém. Por isso, ela destruiu TODOS os vira-tempos no quinto livro, justamente para acabar com esse problema. Seria fácil pro Harry pegar um vira-tempo depois da morte do Sirius, voltar no tempo e salvá-lo. Porém, ela resolveu voltar atrás agora e dizer que tinha um vira-tempo ilegal. QUE MARAVILHA.
Além disso, esse vira-tempo pode voltar bastante no tempo. Por isso, eu fico me fazendo a seguinte pergunta: será que era tão difícil criar um objeto mágico totalmente novo que tivesse o poder de voltar no tempo, sem ser o vira-tempo? Que fosse algo raro, que foi pouco visto no mundo, quase uma relíquia. Isso já serviria. Ao invés disso, resolveram reviver um objeto que foi completamente destruído na série e ainda remodelá-lo, para que ficasse mais poderoso. Parabéns pela criatividade, pessoal.
- Presentes do Harry
Ao que parece, a família Potter tem a tradição de dar presentes pré-embarque do Expresso de Hogwarts. Então, Harry resolve dar para Tiago Sirius simplesmente A CAPA DE INVISIBILIDADE! Sério, eu ainda estou tentando digerir isso. Ele não deu como presente de aniversário ou de natal. Deu porque, no dia seguinte, o filho iria viajar para Hogwarts. Além disso, ele dá logo para Tiago Sirius, que, pelo pouco que li, é realmente a mistura de Tiago com Sirius. Para que esse garoto usaria uma capa dessa em Hogwarts, a não ser para desrespeitar regras como o pai? Enquanto isso, Harry poderia usar a capa para assuntos sérios, já que ele trabalha no Ministério da Magia. Não dá para entender.
Então, depois de dar o presente mais maravilhoso que ele poderia dar para o filho mais velho, orgulho da família, Grifano, ele dá a manta que ele foi enrolado na noite em que os pais dele morreram. ÓTIMO PRESENTE, NÃO? A manta que representa a morte dos pais e a ida dele para o pior lugar em que ele poderia crescer: a casa dos Dursley. Ele resolve dar isso para um adolescente problema de catorze anos, que briga com ele sempre, por ele ser quem ele é. O pior de tudo isso é que foi uma conveniência enorme do roteiro para poder resolver um problema que será criado lá na frente. Sério, foi muito ridículo isso tudo.
Para completar a bagunça, Harry, que foi órfão desde cedo e sofreu abuso, humilhação e abandono quando criança pela única família que ele tinha, explode. Ele diz que há momentos que gostaria que Alvo nunca tivesse nascido. Na boa, Ordem da Fênix sabe o quanto eu odiei Harry naquele livro, porque ele estava insuportável, mas nesse, ele está desumanizado. Não vejo Harry nunca nem pensando em algo assim. Ele sabe o que sofreu na infância e ele sempre quis ter uma família. Como que ele não vai desejar um filho? Eu achei muita forçação de barra para acentuar mais a briga clichê de pai e filho.
- Salvar Cedrico
Por pura birra pelo pai, Alvo quer salvar Cedrico. Aí vem outra questão que venho me perguntando sem saber a resposta: quem criou o roteiro, não tinha um personagem melhor para salvar não? Vejamos, temos Dumbledore, Lupin, Tonks, Fred, Dobby, Sirius, Líllian e até Tiago e Snape. Eles realmente resolveram criar um roteiro cuja história girasse em torno do filho do Harry e do filho do Draco querendo salvar Cedrico? OK, vamos deixar passar essa por enquanto. Vem mais pela frente.
- A senhora dos doces
Alvo e Scorpio decidem fugir do Expresso de Hogwarts em movimento, mas algo quer impedi-los: a senhora que vende os doces no trem! Sério, gente, quem pensou em colocar essa bruxa como guardiã do trem? Primeiro que deveria ser impossível sair do trem em movimento de alguma forma. Segundo, a ideia da senhora pegar os garotos do telhado do expresso em movimento é muito sem noção. Não consigo entender como isso foi aprovado.
- Cicatriz do Harry volta a doer
Sabe quando você lê tanto uma história que conhece como fosse sua e aí você lê uma continuação que não faz sentido? Se eu não estou enganado, a ligação do Harry com Voldemort acabou no momento em que o mesmo destruiu a horcruxe que existia dentro de Harry. Ele só tinha pesadelos e só sentia a cicatriz arder por causa da horcruxe dentro dele. COMO que Harry voltou a sentir a cicatriz doer, ter pesadelo e até ter visões de cenas do passado que ainda não haviam sido modificadas no futuro, mas que serão, e por isso ele sente? (Ficou confuso, mas releve) Se Voldemort voltasse, eu aceitaria, mas isso não ocorre, pelo menos não de uma forma concreta.
- Alvo e Poção Polissuco
Essa foi a parte que quase me fez parar de ler o livro. Scorpio se transforma em Harry, Alvo em Rony e Delphi em Hermione. Tudo isso para eles pegarem o vira-tempo que foi achado e está no Ministério da Magia. Só que, Alvo acaba tendo que se passar por Rony para distrair a Hermione. O que ele faz? Ele beija na boca da Hermione duas vezes e a convida para “fazer outro bebê”. Será que só eu vi algo muito errado nisso tudo? Alvo tem catorze anos e está beijando a tia dele. Por mais que a Hermione não saiba que ele é o sobrinho dela, colocá-la nessa situação foi completamente errado com a personagem. Pior ainda colocar um garoto que beija e se insinua para a tia de forma tão errada. Eu realmente não entendi qual foi o objetivo disso, só sei que não havia justificativa nenhuma para isso acontecer, o que piorou tudo.
- Mudando a Primeira Tarefa do Torneio Tribruxo
Não vou nem me aprofundar na questão de que Alvo desarmar Cedrico no meio da prova foi algo muito bobo e que haveria outras formas de se trabalhar essa parte. O que eu quero falar é sobre como o tempo mudou. Ficou muito ilógico toda a questão de mudança do tempo porque fatos pontuais foram mudados, mas o resto permaneceu a mesma coisa. Inclusive, Alvo e Scorpio voltam na EXATA situação que se encontravam antes de voltar no tempo e mudá-lo. Sendo que, querendo ou não, eles criaram uma nova linha temporal, uma realidade diferente. Talvez, nessa realidade, Alvo nem pensaria em salvar Cedrico, para começo de conversa. Ao invés disso, o que a viagem no tempo mudou foi que Alvo foi parar na Grifinória, Rony se casou com Padma, tendo Paju, ao invés de Rose e Hugo com Hermione, e Hermione virou a versão feminina do Snape. "Só" isso mudou. Eles mudaram uma situação que ocorreu vinte e dois anos antes e "só" isso mudou. É impressionante como o roteiro consegue acabar com a atração principal dele.
Ah, mas não foi "só" isso que mudou não. Temos uma cena em que Harry MANDA que Minerva McGonagall, agora diretora de Hogwarts, vigie Alvo pelo Mapa do Maroto. Se ele chegar perto de Scorpio, ela deve intervir. Se ela não vigiá-lo e/ou não intervir, Harry saberá e virá com toda a força do Ministério contra a escola! OLHA QUE DISPARATE! Quer dizer, uma diretora que tem uma escola como HOGWARTS, não é a creche da esquina, é H-O-G-W-A-R-T-S, tem que vigiar o filho do Harry dia e noite só porque ele quer, sob ameaça dele usar o Ministério para atacá-la. Sabe o que é o PIOR DISSO TUDO? Tanto Minerva quanto Gina, que estava presenciando esse filme de terror, abaixaram a cabeça, colocaram o rabinho entre as pernas e disseram “sim, senhor, seu Potter”.
CARAMBA! Como a J.K. Rowling aprovou algo desse tipo? Em nenhuma linha temporal a Minerva iria abaixar a cabeça para Harry. A mulher lutou em várias guerras bruxas, foi uma tutora para Harry e, simplesmente, ia se resignar a fazer o que ele manda, ainda mais com tanta grosseria? E A GINA? Cadê aquela garota forte que sempre tinha uma resposta na ponta da língua e não se deixava mandar nem pelos irmãos mais velhos? Como ela pôde deixar o marido dela tratar a Minerva dessa forma? Aliás, o Harry pode ser super arrogante muitas vezes, mas ele nunca desrespeitou pessoas que ele gostava e ele sempre teve muito respeito pela Minerva. Sério, não dá para aceitar isso. Simplesmente, não dá. É um absurdo.
Infelizmente, não para por aí. Resolveram mudar a Hermione também. Só para constar, ela é a minha personagem preferida da série. Por isso, foi com horror que eu a vi na versão feminina do personagem que eu mais odeio da série: Snape. Não dá para entender como essa simples mudança alterou tanto a Hermione. OK, ela achou que o Krum mandou sabotar o Cedrico na prova e, por isso, foi com Rony no baile, como amiga. Assim, o Rony não sentiu ciúmes e eles nunca ficaram juntos. Primeiro que já rolava clima entre eles bem antes do quarto livro. Segundo que no sexto livro a Hermione também tem ciúmes do Rony e estava nítido que alguma coisa iria rolar alguma hora.
O que mais me incomoda é Hermione virar uma professora amarga só porque ela não ficou com Rony. Quer dizer que ela só se tornou Ministra da Magia porque ela tinha Rony e, sem ele, ela não é capaz? Quer dizer que, já que não ficou com Rony, ela resolveu praticar bullying com as crianças, da mesma forma que sofreu nas mãos do Snape, lecionando DCAT, que nunca foi uma das matérias favoritas dela? Não dá para entender como três pessoas pegaram personagens tão fortes e incríveis e os transformaram em personagens detestáveis só por causa de uma alteração que mudou algo pontual no tempo e deixou o resto exatamente da mesma forma.
- Mudando a Segunda Tarefa do Torneio Tribruxo
Sim, fazer burrada uma vez não adianta, tem que fazer várias. O pior é que eu não consigo decidir qual mudança afetou mais as características dos personagens. Depois de voltar no tempo de novo e humilhar Cedrico na segunda tarefa, acontece algo bizarro: Voldemort ganha a Batalha de Hogwarts e Harry morre, Alvo nunca existiu. Dessa vez, mudou tudo, até a personalidade do Scorpio mudou, o que é até aceitável, já que ele cresceu em outro mundo, com outra criação. Porém, personagens que já tinham o caráter formado e conhecido, também mudaram.
Vamos começar por Cedrico, que dessa vez conseguiu viver, mas devido à humilhação na Tarefa, virou Comensal da Morte e matou Neville, que não conseguiu matar a Nagini. Assim, Voldemort ganhou a Batalha de Hogwarts. Que beleza, não é? Um dos personagens mais íntegros e leais da série, que ganhou um discurso incrível do Dumbledore no funeral dele, por causa de uma humilhação trocou de lado e se juntou à Voldemort. Dá vontade de bater com a minha cabeça na parede. Acho que agora deveríamos ficar aliviados pelo Cedrico ter morrido tão cedo. Vai que ele fosse humilhado em Ordem da Fênix e virasse Comensal da Morte? Uma coisa é mudar fatos que desencadeiam outros. Outra coisa, totalmente diferente, é mudar a personalidade dos personagens.
Snape foi e sempre será um personagem que tenho problemas gravíssimos. Tudo porque muitos consideram ele como um herói, mas ele é um anti-herói. Não vou me alongar explicando o que acho sobre ele, porque já escrevi um texto sobre, quando eu fazia parte do Portal Caneca (clique aqui para ler). A questão é que forçaram uma barra para ele, nessa realidade, ser “amiguinho” da Hermione e do Rony. Tudo bem que ele continua sendo ríspido, mas acho que só o fato dele estar ali na resistência com eles, já é um erro. Cheira muito à fanservice pros fãs do Snape.
Snape precisava ajudar Harry porque Dumbledore mandava e ele prometeu à ele que faria tudo que fosse mandado. Porém, Harry, a única pessoa que poderia matar Voldemort, morreu. A função dele na Terra acabou. Não teria lógica nenhuma ele continuar na resistência. Na minha opinião, ele estaria do lado dos Comensais da Morte, como se nada tivesse acontecido e como se ele sempre fosse leal à Voldemort. Não tem lógica Hermione e Rony confiarem nele. Para isso, eles precisariam saber sobre toda a história da Líllian e duvido que Snape contaria. Só se Dumbledore pedisse, mas até Dumbledore saberia que não há mais nada para fazer. Não teria como derrotar Voldemort sem Harry. Além disso, Snape diz que ficou orgulhoso de saber que o nome dele foi dado ao filho do Harry. Como eu disse na coluna, ele nunca suportou Harry. Harry era o filho do pior inimigo dele com o amor da vida dele. Não tem como ele sentir orgulho de um filho do Harry, na boa. Isso me deixa chateado porque isso só confunde mais as pessoas sobre como o Snape era.
- A filha do Voldemort
Fica até difícil de saber o que é pior nesse roteiro, mas criar uma filha pro Voldemort, além de ser completamente clichê, é muito errado. Primeiro que vou precisar de psicólogo pro resto da minha vida para tentar parar de pensar no Voldemort e na Bellatrix concebendo uma criança da forma biológica. Mas vamos tentar não pensar nisso. Vamos pensar que Voldemort e Bellatrix conceberam a criança de forma mágica. Só que não tem sentido nenhum nisso.
Se criassem uma filha que tenha sido gerada antes de Tom Riddle virar Voldemort, seria clichêzão de novela, mas seria aceitável. Porém, a criança nasceu entre a Batalha de Hogwarts do sexto livro e os acontecimentos do sétimo. Teve tempo hábil para isso? Não. Só se a gestação durou semanas ou dias. Só que, pior do que isso, é a motivação para essa criança existir.
Voldemort sempre foi e sempre gostou de trabalhar sozinho. Os Comensais da Morte não eram aliados, eram servos, importante frisar. O que ele mais queria na vida era ser imortal, porque ser imortal, para ele, significaria ser muito poderoso, até porque ele estaria vencendo a própria morte. Ele queria o poder, mas mais do que isso, ele queria ser imortal. Logo, esse pensamento de que “ah, ele fez um filho para que, caso algo desse errado, o filho assumisse e continuasse o que ele começou” não cola. Ele estaria morto e, portanto, não interessaria se alguém continuaria o regime de poder que ele implementou. O bem mais precioso dele, a vida, teria acabado. A guerra já teria sido perdida.
Além disso, na época do nascimento da criança, Voldemort estava confiante de que venceria a batalha. Ele estava dominando o Ministério da Magia, não sabia que Harry sabia sobre as Horcruxes e era questão de tempo até ele conseguir matá-lo. Não tinha razão para se desesperar e criar uma filha para ocupar o lugar dele. Mais do que isso, Voldemort sempre foi orgulhoso e foi isso que acabou o matando. Ele estava super confiante de que iria vencer. As Horcruxes faziam parte da busca dele pela imortalidade. Uma garantia de que ele continuaria vivo, caso ocorresse uma fatalidade. Uma filha não teria sentido porque ele não viveria na filha. Ela seria outra pessoa. Por isso, não consigo engolir essa de filha de Voldemort. Foi clichê, foi bem apelativo e sem criatividade nenhuma, além de desconstruir toda a estrutura de um personagem incrível.
- Alvo, Scorpio e Rose
O desenvolvimento do relacionamento entre Alvo e Scorpio foi um dos pontos altos do livro, na minha opinião, por ser algo inesperado. Durante a leitura, eu realmente achei que houvesse algo mais do que amizade entre os dois, o que seria meio “Romeu e Julieta” versão século XXI, mas que pudesse funcionar, já que foi uma das poucas coisas que conseguiu ter um bom desenvolvimento. Porém, tudo foi por água a baixo quando Scorpio chama Rose para um encontro e ela aceita. Depois, Alvo e Scorpio conversam sobre namoradas. Tudo bem que algo entre os dois nunca ficou explicitado e poderia ser uma grande amizade. Scorpio sempre se mostrou inclinado à Rose. Porém, Rose nunca gostou do Scorpio e, de uma hora para outra, resolveu aceitar o convite dele.
- Final ou Início?
Depois dessa confusão toda no mundo bruxo, que foi causada por uma briga entre Harry e Alvo, os dois se acertam. Tudo fica muito bem, obrigado, eles deixam as diferenças de lado e tudo acaba com aquele sabor de que essa foi a maior perda de tempo que tive na vida. Uma história que acaba da mesma forma que começou. A única mudança foi fortalecer a ligação entre pai e filho, amizade entre Alvo e Scorpio, possível romance entre Scorpio e Rose, e só. Duas peças para isso.
J.K. Rowling aceitou fazer uma peça que mudou inteiramente vários personagens importantes da série dela para a história andar em círculos, usar artifícios velhos e clichês e não mudar nada para a trama canônica em si. Ela fez esse alvoroço todo, fez pessoas disputarem ingresso e viajar para Londres para ver a peça, ou comprar um livro à preço de ouro, para entregar isso. Eu não tenho como explicar em palavras o quão profundamente decepcionado estou com tudo isso.
Não preciso nem dizer que passarei o resto da minha vida tentando apagar da minha memória essa piada de mau gosto que ela chamou de oitava história só para lucrar mais em cima da série. Além disso, ela informou que “Harry acabou” e que essa foi a última história. Ela, sinceramente, poderia ter parado em Relíquias da Morte, que estaria super feliz. Mas, quem sabe, né? Desde 2007 vem falando que “Harry acabou” e lançou isso. Espero que tenha acabado mesmo porque tenho medo do que virá a seguir. A cicatriz voltou a incomodar depois de vinte e dois anos. Tudo estava péssimo.
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