segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Black Mirror - Nosedive

Black Mirror é uma série de televisão que mostra como a tecnologia e a sociedade podem dar errado. Só essa temática que interliga a produção, já que cada episódio tem história, personagens e atores diferentes. A série foi comprada pela Netflix e agora ganhou mais uma temporada com seis episódios (há duas temporadas que foram feitas antes da compra, com 3 e 4 episódios, respectivamente). Como me interesso bastante por tecnologia e como ela pode influenciar a sociedade, essa é basicamente uma série feita para mim e, por isso, está nos meus planos fazer análise de cada episódio dessa terceira temporada abordando o assunto tratado.
Nosedive começou de uma forma que não gostei muito por causa da tecnologia em si. Vamos lá, o episódio mostra um aplicativo de classificação de pessoas e você é capaz de ver a numeração de cada um através de uma lente de contato com realidade aumentada. Até aí, tudo bem. Eu só não entendi muito bem a necessidade do app para smartphone, já que, poderiam utilizar a realidade aumentada da lente para, com as mãos, atribuir a nota para a pessoa. Tudo bem que nesse caso a pessoa iria ver explicitamente qual nota você deu na hora, mas você pode ver pelo aplicativo, então isso meio que perde o sentido. O que eu pensei foi que, talvez, tenha a parte do aplicativo para a pessoa “se esconder”, nem que seja um pouco, atrás da tecnologia e do mundo virtual, o que faz sentido já que muita gente escreve na internet coisas que nunca diria na vida real.
Toda a temática foi muito bem trabalhada para mostrar algo que já acontece hoje: a monetização da avaliação pessoal. Pode parecer que a série deu um salto muito grande da realidade e foi para um lado distópico, mas é real: há pessoas hoje que ganham dinheiro por causa do número de curtidas. Com muitas curtidas hoje, você pode fazer mershan, ganhar passe vip para festas e eventos, ganhar cabine de imprensa e outros mimos de produtoras de cinema para falar bem do filme que elas estão produzindo e até simplesmente ganhar dinheiro por trazer pessoas para um site.
Eu mesmo ganho alguns centavos de dólares (são poucos, mas enfim) quando tenho um número “x” de visitas no blog por causa do Google Adsense. Se a página do Facebook do blog tivesse mais curtidas ou se eu fosse um “digital influencer” super conhecido e compartilhasse uma postagem do blog, a quantidade de pessoas que entrariam no blog seria maior e assim eu ganharia mais dinheiro. O Youtube tem um sistema de monetização ainda mais evoluído, que é pelo número de visualizações, curtidas, descurtidas, inscritos, comentários, enfim, várias variáveis que fazem um anúncio aparecer antes do vídeo de algum youtuber ou não.
Qual é o grande problema disso tudo?  Bem, o problema como sempre é como o ser humano utiliza essa ferramenta. Já vi casos de pessoas dando dicas de como ganhar curtidas no Facebook fazendo imagens apelativas do tipo “curte se você ama Deus, apenas olhe se você não ama”, imagens de animais ou pessoas doentes para fazerem as pessoas se solidarizarem, imagens de pessoas que morreram com alguns dizeres tristes para o mesmo fim que o anterior, falar mal de algo ou alguém só porque está na moda e tem muita gente falando mal, enfim, tem mil exemplos. Aí a gente para e pensa: até que ponto isso vale à pena? Até que ponto vale à pena eu falar bem de algo que eu odeio só porque eu sei que tem pessoas que gostam e que falar bem vai me gerar uma quantia em dinheiro? Até que ponto, do mesmo modo, vale à pena falar mal de alguém que tenho nada contra só porque todo mundo está falando mal e se eu falar mal também eu vou ganhar dinheiro? Quanto vale nossa opinião?
Ao mesmo tempo tem toda a questão do motivo pelo qual alguém faz algo em rede social. Eu estou postando uma foto para dividir um momento com meus amigos online ou estou fazendo para causar inveja? Eu escrevo um texto para dividir a minha opinião sobre o assunto ou para mostrar que eu tenho um posicionamento e que sou estudado ou informado? As redes sociais foram perdendo a essência com o tempo. O que antes era mais um espaço de compartilhamento e união de pessoas, se tornou uma grande batalha de ego para saber quem é a pessoa mais feliz, mais bonita, com o melhor filtro, que come as melhores comidas, vai aos melhores lugares e tem os melhores amigos.
O que já era esperado e que por muito tempo não foi uma verdade, se tornou um fato: a internet nos tornou menos humanos e mais robóticos. Por muito tempo, a internet foi uma ferramenta ótima para nos aproximar. Eu me lembro que no Orkut eu conversava com vários fãs de Harry Potter e isso era muito bom porque eu não conhecia pessoalmente tantos fãs assim. Depois, até participei de um RPG online no próprio Orkut sobre Harry Potter e foi lá onde comecei a escrever e tudo mais. Hoje em dia, estamos na era do visual. Na era do “uma imagem vale mais que mil palavras”. Uma foto no Facebook tem mais alcance que um texto. Um vídeo, então, nem se fala. E se você fizer uma transmissão ao vivo… aí você vai ser “TOP”.
Sabe qual é o pior disso tudo? Caímos nessas armadilhas criadas por nós mesmos pelo simples fato do ser humano ser, em sua essência, uma criatura invejosa e carente de atenção. Nós não nos sentimos bem ao ver alguém tendo mais curtidas que a gente. Nós queremos nos reafirmar o tempo todo e também queremos nos sentir amados, acolhidos e bem quistos. E quem não tem noção de como a internet mexe com a gente acaba caindo na esparrela de fazer qualquer coisa que dê destaque nela. Até se expor ao ridículo para ter quinze minutos de fama ou ganhar muitos comentários, curtidas e compartilhamentos.
Voltando para o episódio, não gostei muito da conclusão dele. Achei um tanto previsível e esperava mais. Porém, gostei bastante da reflexão proposta, ainda mais por ser um assunto que levanta vários temas. Por muito tempo, e, talvez, hoje ainda temos resquícios disso: a informação era o bem mais precioso que alguém poderia ter. Será que não chegamos no momento em que a informação não importa dependendo de quem a está passando? Seriam as pessoas, agora, o bem mais valioso que alguém poderia ter?
OBS: Vou postando as análises dos episódios à medida em que for vendo, então pode demorar de uma análise para outra. Curta a página do blog no Facebook clicando aqui para saber quando a próxima coluna sair e poder sugerir futuros temas pro blog.
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