quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Devemos Separar o Pessoal do Profissional?

Há uma nova bomba do momento e ela responde por “Johnny Depp está confirmado para a sequência de Animais Fantásticos e Onde Habitam, podendo fazer uma participação pequena no primeiro filme”. O grande problema é que em Maio desse ano, o ator foi acusado pela esposa na época, Amber Heard, de ser violento com ela. Segundo o G1 (clique aqui para ler a matéria), houve um acordo em Agosto onde Depp pagou 8 milhões de dólares para Amber e ela retirou a denúncia por maus tratos, doando o dinheiro para a caridade. No meio dessa história toda e da confirmação do ator na franquia prequel (mesmo universo, mas é cronologicamente anterior aos eventos narrados) de Harry Potter está o fandom Potterhead que está brigando basicamente pela seguinte questão: “Devemos separar vida pessoal da vida profissional?”.


Primeiro, vamos aos fatos. Harry Potter não é uma série qualquer. Está bem longe disso. Ela é uma das sagas mais famosas da história. A autora, J.K. Rowling, foi a primeira pessoa a ficar bilionária escrevendo livros por causa da saga e até hoje tudo o que ela toca vira ouro por causa do enorme fandom que nunca adormeceu mesmo depois do lançamento do último filme em 2011. Agora em 2016 vamos voltar ao mundo de Harry Potter, mas em 1926, para ser específico. Mais algumas coisas a se considerar: J.K. Rowling é conhecida por ter um grande controle criativo em tudo ligado à Harry Potter. Ela fez questão que todos os atores que interpretassem britânicos fossem britânicos (por motivos óbvios) e isso é só um exemplo.
Falando um pouco mais sobre J.K. Rowling: além de ser mulher, é engajada por diversas causas no mundo todo. Tanto que deixou de ser bilionária e a pessoa mais rica do Reino Unido por tanto de doação que fez. Antes de toda a fama e todo dinheiro, sofreu violência doméstica do marido, se separou e foi mãe solteira, relatando ficar tão pobre quanto alguém pode ficar e sobreviver. Ela teve depressão e diversos problemas por conta disso, até que, depois de doze tentativas, a Bloomsbury aceitou publicar o livro dela e o resto todo mundo sabe. É muito estranho juntar uma pessoa acusada de agredir uma mulher com uma mulher que sofreu agressões do marido. Estranho é só o começo.
Por mais que muitos achem, Harry Potter NÃO É apenas mais uma história de um garoto que descobre um novo mundo incrível de magia e tem toda uma jornada de herói. Meu coração até dói ao pensar que alguém possa reduzir a saga Harry Potter à apenas isso. Harry Potter é sobre amor. Amor materno que salvou Harry de ser morto pelo feitiço mais letal conjurado pelo bruxo mais maligno, amor fraterno que fez Harry, Rony e Hermione salvarem uns aos outros (e o mundo bruxo de tabela) em todos os livros, enfim, amor. Harry Potter também é sobre o preconceito que a raça pura de bruxos tem com os mestiços e nascidos trouxas ao ponto de querer exterminá-los. É sobre como enxergamos os mais vulneráveis ou menos poderosos. Enfim, Harry Potter trata de tanta coisa durante os sete livros que tentar resumi-lo à qualquer coisa acaba sendo um pecado. Clique aqui para ler uma matéria de uma pesquisa científica onde foi confirmado que Harry Potter ensina crianças a lutar contra o preconceito.  
Vamos voltar agora para a confusão extremamente delicada entre Johnny Depp e Amber Heard. Não dá para se afirmar com 100% de certeza que ocorreu ou não a agressão. Os fatos são: a Amber retirou a denúncia, ele pagou a quantia determinada pela justiça, os dois se separaram e morreu o assunto. Só que é nessa incerteza que mora o perigo porque se existe 0,0000001% de chance dele ter agredido a mulher, ele deveria realmente coprotagonizar uma série de filmes prequel da maior saga infanto-juvenil de todos os tempos? Há um lado que diz que não podemos misturar a vida pessoal com a profissional e o que importa é a atuação, e outro que diz que não importa se ele é um ator excepcional, se ele for um agressor de mulher.
Só que a questão é bem mais complexa do que simplesmente uma pessoa atuando em um papel, mas o que tudo isso significa. Estamos em 2016 e acabou de sair uma pesquisa onde diz que um em cada três brasileiros culpa a mulher por causa de estupro. Isso é algo bem grave e, só pra deixar claro, A CULPA NUNCA É DA VÍTIMA! Nesse caso do Johnny Depp, aconteceu o que mais ocorre nesses casos: a Amber Heard foi acusada por milhares de fãs do ator de mentir sobre a violência para ganhar dinheiro e/ou fama em cima do caso. Li de muita gente na internet “Mas ela retirou a denúncia, então ele não é culpado” e não é bem assim. Já foi um grande passo para ela denunciá-lo porque ele é um dos atores mais prestigiados do mundo não só pela carreira, mas pelas ações filantrópicas que ele faz.
Além disso, por mais que seja custoso acreditar, se colocar em uma posição de fragilidade e impotência diante do mundo todo, não deve ser tarefa fácil. É claro que a justiça, acertadamente, sempre parte da premissa de que todos são inocentes até que se prove ao contrário, mas fica o questionamento, caso tenha sido mentira dela, do porquê ela faria algo assim, sendo ela uma atriz famosa também e não precisar de dinheiro ou fama. Por isso, na MINHA concepção (você pode discordar, se quiser), sou mais inclinado a culpar Johnny Depp pela agressão, que não seja física, mas moral como tem vídeo provando, do que desacreditar de Amber.
Isso me lembra um caso bem parecido que ocorreu nas eleições para prefeitura do Rio de Janeiro. Pedro Paulo, então candidato do PMDB e do prefeito atual do Rio, se envolveu na mesma situação: agressão à mulher dele. Ele admitiu, depois voltou atrás, perito não se lembrava do laudo, enfim, acabou que a mulher continuou com ele normalmente, mas isso repercutiu tanto que mesmo tendo um dos maiores tempos do horário eleitoral, ele não conseguiu passar para o segundo turno. Vamos refletir de novo: uma pessoa acusada de agredir a própria mulher poderia ser prefeito de uma cidade? Um fato para pesar ainda mais na consciência: a cidade em questão tem mais mulheres que homens. Talvez você possa ter mudado a sua opinião, talvez não, mas agora eu quero falar porque essa relação Vida Pessoal x Vida Profissional é bem mais complicada para pessoas como Pedro Paulo e Johnny Depp.
Quando uma pessoa comum vai em uma entrevista de emprego, perguntam para ela qual é o maior defeito dela, qualidade etc. De uns tempos para cá, então, as empresas tem olhado ainda mais para a vida pessoal dos empregados através das redes sociais. Tudo isso porque se uma pessoa trabalha em um lugar, ela acaba carregando junto o nome da empresa. Quando é uma pessoa pública, tudo fica ainda mais complicado. A pessoa pública, por si só, é uma marca, um símbolo, que serve tanto para ter seguidores como para vender produtos. É só ver no caso do Johnny Depp que atrai diversos fãs para qualquer filme que ele faça, sem pouco importar para a história. Ele como pessoa pública tem o poder de influenciar muitas pessoas tanto para o bem quanto para o mal.
Como que fica, então, quando essa mesma pessoa, que tem o poder de influenciar o mundo, sai ileso de acusações gravíssimas que até hoje não se há certeza sobre a inocência dele ou não? Como fica então, quando ele vira coprotagonista de uma saga prequel multibilionária de uma das maiores franquias infanto-juvenis da história? Não fica aquele gostinho de “algo de errado não está certo”?. Junte isso tudo ao fato da J.K. Rowling já ter sofrido violência doméstica e de Harry Potter, da qual Animais Fantásticos e Onde Habitam é derivada, seja uma saga sobre aceitação, amor, tolerância e que recrimine o preconceito e a violência. Pode haver mil casos onde a vida pessoal e a profissional não se misturam. Esse, ao meu ver, não é um deles. Minha opinião é “WARNER, MUDA ENQUANTO DÁ TEMPO!”. Dá para cortar a rápida aparição dele nesse filme, se for o caso, e escolher outro até melhor para o papel. O que não dá é ter um ator envolvido em uma acusação tão grave no elenco. Já basta Hollywood ter esquecido disso como se nada tivesse ocorrido…
Só para lembrar, essa é uma coluna com a minha opinião sobre o assunto. Você pode concordar ou discordar dela e, se quiser, comentar o que acha nos comentários aqui embaixo.
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